Era o ano de 1970, Brasil tricampeão mundial, acabara de entrar, com nove anos de idade, no conservatório de música, para estudar violão com o professor João Pire Argolo – “o melhor do estado”, dizia meu avô, José Domingues Fontes, um grande boêmio. “Ele toca muito bem e com classe”, dizia minha Avó, América, uma exímia pianista. Claro que não percebi, de imediato, essas declarações, mas apreendi nas aulas o poder e a concentração que a música clássica exigia e a criatividade da música popular, que mesmo sem querer, o professor Argola passava pra todos seus alunos.

Nesse período, fui estudar no Colégio Sagrado Coração de Jesus, das irmãs e professoras Maria José e Dora e lá conheci Luiz Carlos Cavalcante Ribeiro. Morava na Av. Desembargador Maynard com os avós, casa grande, cheia de mangueiras e uma oficina que o avô fazia de tudo, até aquários para peixes ornamentais, e foi dele que aprendi a gostar da criação de peixes e aquários.


Um dia, a professora Maria José levou à escola uma pessoa para fazer uns testes com os alunos para o coral da escola. O nome dele era Manezinho – Manoel Francisco de Santana, na época, do arquidiocesano, hoje, do colégio Dinâmico. Fizemos o teste, eu e o Luiz Carlos, e passamos. Fazíamos os solos das músicas de todos os eventos, cantando Roberto Carlos: Jesus Cristo e A Montanha, e músicas das missas… tempo bom.

Ao saírmos do colégio para fazer o ginásio, nos separamos. Eu fui para o Salesiano e ele para o Jackson de Figueiredo.
No começo dos anos oitenta, em conversa com um amigo comum, ele perguntou se eu iria ao show do Lula Ribeiro. Eu perguntei quem era o Lula Ribeiro e, para minha surpresa, ele disse é o Luiz Carlos. E olhe que sempre estávamos juntos: eu tocando violão e ele uma Escaleta – instrumento que não desgrudava dela pra nada. E de fato, não sabia que o Lula estava tocando violão e compondo. E mais ainda, querendo levar a sério uma vida profissional com a música, e conseguiu.

Lula começou com o show Florescer, que participei fazendo a luz. Uma história curiosa: o Jorge Lins escrevia para um jornal e fez uma crítica não muito boa do show florescer. O Lula não gostou e foi pedir explicação e dessa conversa saíram parceiros e amigos. O Lula começou a trabalhar no Grupo Raízes, compondo, cantando e fazendo alguns papeis nos espetáculos.

Em 1986, ele resolveu ir embora para o Rio de Janeiro. De lá pra cá, são 07 discos começando com o Cajueiros dos Papagaios, 1986, onde divide comigo e o Paulo Lobo, Janeiros 1993, O Sono de Dolores – 1996, projeto lindo em homenagem a Dolores Duran onde consolida Lula como Interprete e um estudioso da MPB, Muito Prazer – 1999, Algum Alguém – 2003, o CD e DVD Palavras Que Não Dizem Tudo – 2007, com shows em casas importantes do cenário musical brasileiro como o Canecão, projetos e parcerias com os mais renomados artistas brasileiros.

Todo artista passa muito tempo em busca de uma estrada segura que agrade a todos principalmente a ele, e tenho quase certeza que essa estrada foi apresentada ao Lula no disco no CD Muito Prazer, onde o piloto tem um co-piloto de muita qualidade, o Arthur Maia, que dá ao trabalho de Lula uma sonoridade universal, com parceiros que seriam constantes dalí por diante, e nunca deixa de ter sempre a sergipanidade com a parceria com o Ismar Barreto “Deixe Estrar e Estar, Mas afim de perder, meu olhar no olhar”.

“Algum Alguém” vem com uma sonoridade requintada e luxuosa, pilotado por Arthur Maia, na direção e arranjos. Parceria com Chico Pires “oi ai” Sergipe de novo, com a declaração “Te amo Aracaju, Te amo Aracaju, A maresia é meu olho Quando te beijo” além da beleza de “Milagre” parceria com o Walney Costa, com um contrabaixo inesquecível do Arthur – um presente não só para o Lula mais para todos nós.

Lula Ribeiro, antes de mais nada, é um dos mais brilhantes produtores que conheço e a cada disco, a cada show ele melhora e amadurece como músico, interprete e compositor. “O amor é sempre assim” é o novo trabalho do Lula, tem 13 faixas, com a mesma receita. Produzido por Arthur Maia e Lula Ribeiro, conta com a participação do Zeca Baleiro, Flávio Venturini, Chico César, Fernanda Takai, Flavio Renegado, amigos que o Lula fez na sua longa estrada de luta, carinho e aprendizado. Os parceiros são prova disso e cada um mais bacana que o outro, como Paulinho Pedra Azul, Zeca Baleiro, Alexandre Nero, Chico Pires, e o saudoso Vander Lee que diz: “Sai dor, quer parar de me doer, vai e me deixa viver”.

“O amor é sempre assim”, simples assim, é um convite para você ouvir a boa música com arranjos e interpretações de muita qualidade e com muita verdade. Ouvindo o CD, a esperança renasce de a boa música não nos abandonar.

Meu amigo de infância é uma realidade musical do Brasil, isso me deixa muito feliz!

 

 

Neu Fontes –  cantor, compositor, agente cultural