Beber uma cerveja é como viajar no mundo. Se você optar por beber sozinho, sua imaginação será o seu transporte. Mas, quando você está acompanhado de amigos você é que é transportado no espaço e no tempo.

Estas histórias aconteceram há alguns anos, mas a cerveja me deu o prazer de voltar no tempo e ouvir novamente as narrativas. Numa mesa de bar ou em casa, você conversa com amigos, projeta o futuro, relembra o passado, revê pessoas queridas, acerta viagens que nunca se realizarão e outras que propiciam uma janela de felicidade na sua vida.

Tudo atrás de um copo de cerveja. A cerveja é uma porta dimensional para outros mundos. É um quinto elemento da origem da vida. Água, Terra, Fogo, Ar e Cerveja.

Numa dessas caças a este elemento divino, em um dia de sábado de outubro de 2015, fui chamado para beber umas. Luiz é um primo meu por afinidade, companheiro de uma prima – Kátia Flávia. José Roberto é um amigo de Luiz, carinhosamente apelidado de Robertão, devido à sua estatura. Os dois têm várias histórias.

Luiz é empresário do ramo de mídia e comunicação e Robertão, também operante na área de comunicação, trabalhava como diretor comercial de uma TV aqui do Estado. Além disso, Robertão é um caçador de negócios e oportunidades.

Luiz colocou na cabeça de Robertão que o bom negócio era investir em cavalos. Robertão resistiu, mas diante da insistência e da boa verve de Luiz em o convencer, os dois saíram para um leilão. O pai de Luiz era proprietário de uma fazenda no Município de Pinhão e onde seria criado o equino promissor de uma fortuna.

Lance para lá, lance para cá, whisky rolando solto, Robertão olhou para uma égua. Luiz, entendedor e filho do dono da propriedade onde ficaria o cavalo, findou que deu a palavra final e, no sistema de meação, compraram o animal. Um macho.

Dom Quixote de La Mancha, personagem do romance de Miguel de Cervantes tinha também um cavalo que recebia o nome de Rocinante. O nome Rocinante, vem de Rocim, que significa Pileca, cavalo fraco e pequeno. Sete Léguas era o cavalo de Doroteo Arango, conhecido por Pancho Vila, um dos mais conhecidos generais e comandantes da Revolução Mexicana.

O cavalo preferido do Imperador Calígula era Incitatus. Incitatus tinha cerca de dezoito criados pessoais, era enfeitado com um colar de pedras preciosas e dormia no meio de mantas na cor púrpura, própria dos trajes imperiais. Foi-lhe também dedicada uma estátua em tamanho real de mármore com um pedestal em marfim. Calígula incluiu o nome de Incitatus no rol dos senadores.

Silver era o cavalo de Zorro. Na verdade há uma confusão entre Silver e Tornado. Originalmente, Zorro era um cavaleiro da Califórnia espanhola, do início do século XIX, vestido de preto, de capa e espada, combatendo o governo colonial, cuja identidade secreta era do fidalgo Don Diego de La Vega, conhecida apenas por seu fiel mordomo apropriadamente mudo, Bernardo. Ele cavalgava num garanhão negro, Tornado.

The Lone Ranger (O Cavaleiro Solitário) era um personagem originalmente criado para uma radionovela norte-americana, em 1933. Sua identidade secreta era do ranger (guarda rural texano) John Reid, embora ele não a usasse. O herói sempre estava de máscara, e só ocultava o nome verdadeiro para que sua família não sofresse as conseqüências, caso seu verdadeiro nome fosse conhecido.

O Cavaleiro Solitário se veste de maneira bem mais “colorida” – geralmente camisa azul, ou vermelha.  Tinha como parceiro constante o índio Tonto. Seu chapéu era branco. Branco também era seu cavalo, o famoso Silver.

No final das contas, por força comercial, principalmente no Brasil, acabaram emaranhando os personagens e o cavalo de Zorro ficou sendo Silver.

Bucéfalo era o cavalo de Alexandre, o Grande, e nasceu no mesmo dia que seu dono. Foi representado em esculturas, pinturas e mosaicos como um grande garanhão, ornado com um peitoral exibindo a cabeça da Medusa. No local de sua morte, o imperador prestou-lhe uma última homenagem, fundando a cidade de Bucéfala, próxima a Taxila, no atual Paquistão. Era um cavalo indomável que foi montado somente pelo próprio Alexandre.

Napoleão tinha uma centena de cavalos de cores diferentes. Na verdade, apenas 10 eram brancos, o mais famoso foi Marengo que recebeu esse nome porque era nele que Napoleão estava montado quando adentrou os portões da cidade Italiana de Marengo, após a batalha de mesmo nome. A cor branca de Marengo foi, provavelmente, inspirada em uma das imagens mais famosas do imperador francês, o quadro Napoleão Cruzando os Alpes, pintado por Jacques Louis David. Na tela, ele aparece todo estiloso, empinando um belo cavalo branco, durante a batalha de Marengo contra os austríacos, em 1800. Os especialistas afirmam que, na verdade, Napoleão saiu desse conflito galopando no lombo de uma humilde mula.

Marengo foi ferido em batalha oito vezes e finalmente foi capturado depois da batalha de Waterloo e levado para a Inglaterra, onde morreu aos 38 anos. Seu esqueleto foi levado para o Museu Nacional do Exército em Sandhurst.

Ao apelidar o animal, Luiz e Robertão escolheram o nome de um cavalo famoso e, no meio dos vários cavalos famosos, foi escolhido Rocinante, sem que os patronos soubessem a verdadeira imagem do cavalo de Dom Quixote. Colocaram o nome por colocar.

Passado o tempo, é chegada a hora de vender o cavalo e ganhar a tão sonhada valorização com aquele belo exemplar de corcel.

Quem quer ser criador de cavalos tem que ter uma baia móvel trazida a reboque. E eles compraram uma carretinha que seria transportada por um Fiat Uno Mille. Na ladeira do Cafuz, ali perto de Itabaiana, começaram os atropelos. O carro não conseguia subir com a carreta. Levaram mais de 01 hora e meia para cobrir 01 quilômetro de subida.

Chamaram para a venda um comprador de peso. Homem de posses e que tinha condições de pagar o preço pedido. José Alberto, aquele que foi Deputado.

Foram para a propriedade, sentaram na varanda e entre uma cerveja e outra é chegada a hora de apresentar o plantel.

Lula, empolgado e com pose de fazendeiro, gritou de lá:

– Manuca, reúna a tropa.

Manuca, prontamente, arrebanhou as montarias e as colocou em exposição na pradaria.

Robertão, que nem lembrava mais como era Rocinante, ficou procurando o animal no meio dos demais. E quanto mais olhava, mais não o via, até que, no meio de todos, vislumbrou o que ele achou que era um cachorro grande e, virando para Lula, perguntou no ouvido: – Cadê o cavalo?

Lula respondeu: – É aquele ali. E apontou.

– Aquele que parece um cachorro? Que tem uma orelha mais baixa que a outra? Magro? Raquítico? Manco? Perguntou Robertão no desespero.

– Sim. Disse Lula.

Robertão dizia. – Porra, não faça isso comigo. Vou ficar desmoralizado. E já olhando para José Alberto saiu em socorro de Rocinante.

– Olha José Alberto. Pode escolher qualquer um, mas esse aqui é raceado de quarto-de-milha. É um excelente animal.

Respondeu José Alberto: – Olha Robertão, eu compro qualquer um, menos esse cachorro. E assim findou. Rocinante foi vendido para o sujeito da carroça que trabalhava na Fazenda. Lula e Robertão nunca mais cuidaram de qualquer negócio com cavalos.