Em correria, ele entra na sala do piano da mansão da rua de Itabaiana com Senador Rollemberg, gritando pela mãe, Dona América Fontes, esposa do conceituado comerciante da cidade de Aracaju, José Domingues Fontes, o Zé Domingues, proprietário da Ferragem J. Domingues Fontes. Dona América ou Mequinha como era conhecida, estava sentada ao piano tocando uma valsa e, assustada, foi ao encontro do menino Irineuzinho, filho mais velho da família de 8 irmãos. Ela levantou do piano com toda a sua elegância e foi logo pedindo para se acalmar e contar o que estava acontecendo. O menino tinha 12 anos de idade e estudava como todos os irmãos no Colégio Salvador, colégio já famoso e importante nos idos de 1947.
Dona América acalmou o guri e disse com sua voz calma.
– Diga, meu filho!
Ele, com determinação de um adulto disse para ela.
– Mãe, não quero mais estudar, quero trabalhar na loja do meu pai.
Para ela, que era uma pessoa ligada à intelectualidade, tocava divinamente piano, falava inglês fluentemente, irmã do José Calazans Brandão da Silva, sabia e queria que seus filhos tivessem a melhor formação possível e que ela poderia dar.
Mas, a determinação do menino era contundente e inegociável. E foi com grande supresa que o pai, o senhor Zé Domingues, recebeu a notícia da Dona América, que o Irineuzinho iria, a partir daquele dia, trabalhar na ferragem.
O José Domingues argumentou:
– Mequinha, esse moleque é muito novo para trabalhar comigo na loja. Mas não teve jeito, ela conseguiu colocar o Irineuzinho, com 12 anos de idade, sendo o mais novo funcionário da J. Domingues Fontes, loja situada na esquina da Rua Laranjeiras com Travessa Deusdedith Fontes.
Em pouco tempo o garoto aprendeu o serviço e, curioso, foi observando todos os que trabalhavam ali, e descobriu que o gerente de mais de 10 anos da loja tinha um comportamento estranho com as finanças do negócio.
Em casa, comentou com a mãe, Dona América, a descoberta que, imediatamente, passou a informação ao José. O chefe da família reagiu indignado e disse:
– Tá vendo Mequinha que eu te falei que o menino só ia atrapalhar.
Afastou o menino da loja, para tristeza da mãe e do garoto. Mas, como um grande comerciante que era, o Zé Domingues ficou esperto e logo depois, pegou o seu gerente com a mão na massa. Afastou o gerente e colocou o garoto de 12 anos na gerência do seu estabelecimento comercial.
Foram anos de trabalho, sempre com grandes resultadas, dedicado a ferragem, e quase não teve juventude como seus irmãos mais novos, que estudavam. Vivia para o trabalho e sua diversão era jogar bola no Atlético Futebol Clube o Atlético de Cobrinha e vez ou outra gostava de cantar nos programas de rádio e dançar nos clubes da cidade.
No final dos anos 50, conhece sua esposa, Maria Susete, em uma festa em Aracaju e começaram a namorar. Ela estanciana, filha de José Alves, o Dede Sobrinha, barbeiro importante da cidade de Estância, e da Dona Marocas, excelente cozinheira, muito conhecida pela Maniçoba que ela fazia.
O Irineuzinho já com seus 20 anos, tinha virado o Irineu Fontes, reconhecido como grande vendedor e lojista da cidade, amigo dos mais importantes comerciantes e políticos da capital. E toda semana ia à cidade de Estância para noivar, tendo como companheiro de viagem, José Carlos Teixeira, que também noivava uma estanciana, Maria Eugênia Fontes Souza, filha do importante político e prefeito da época, Raimundo Silveira Sousa, Seu Raimundinho.
Casou no final de 1958, e em abril de 1960, nasce seu primeiro filho, no total de quatro filhos com Dona Susete, Irineu, Ana Susete, Sandra América e Simone Angélica e mais dois com a sua segunda mulher, André e Sheila.
Logo, o comerciante Irineu, viu que tinha que dar um passo maior na sua vida profissional, pois o que ganhava como gerente não estava dando para sustentar a sua nova forma de viver, com família e filhos.
Decidiu trabalhar por conta própria e viaja para São Paulo em busca de representadas de tinta, pois a empresa da família tinha a representação das tintas Ypiranga, ou ferragens, não conseguiu nada nessa área, Lembrou que tinha um grande amigo de infância morando em São Paulo e o procurou para que ele desse uma luz. Esse amigo trabalhava na Philips do Brasil e, de pronto, apresentou a alguns amigos. Irineu sai de São Paulo representante de Radio e Radiola da Empire (uma empresa multinacional que atua em diversos setores também fabricou televisores no Brasil nas décadas de 60 e 70. Os modelos coloridos no início dos anos 70 eram considerados os mais avançados do mercado).
Em pouco tempo, o representante comercial se destaca na nova empresa e ganha o prêmio de melhor representante do ano. Ele volta a São Paulo para receber o prêmio e a responsabilidade de vender os aparelhos de televisão. Mas, como fazer isso se em Sergipe não chegava nenhum sinal de TV? A empresa mostrou que com uma repetidora, a cidade podia captar o sinal de um canal mais próximo, e esse sinal era da TV Jornal do Comércio de Recife.
O empreendedor Irineu viu a possibilidade de aumentar suas vendas e de trazer para sua cidade a informação da modernidade. A Televisão. Com sua amizade com o prefeito da época, Godofredo Diniz, convence através de telegrama a importância do investimento na compra de uma repetidora para a cidade, Recebe a autorização, e compra a moderna repetidora. Ele mesmo traz de caminhão para Aracaju, vindo com ele os técnicos da Empire para montar fazer funcionar a nova fase da comunicação do nosso estado. Nascer o embrião da televisão em Sergipe.
Escolheu o Morro do Urubu na zona norte da cidade e lá instalou a Torre da TV como todos chamavam. O poder irradiante é pequeno e o sinal que chega, da TV Jornal do Comércio, de Recife, em Pernambuco, não era dos melhores. Mas foi o suficiente para encantar os poucos privilegiados que tinham um aparelho de TV comprado nas lojas da cidade. Foi um estrondo de venda da TV Empire, lançamentos e promoções que davam ao comprador do aparelho de TV da Empire, de viagens a um Fusca oferecido pelo maior comprador dos aparelhos da Empire, a loja “A Curvelho”, sendo seu proprietário Geonizio Curvelo e ficava situada na esquina da rua Itabaianinha com São Cristovão.
Irineu se destaca dentro da empresa multinacional e se coloca como um dos maiores representantes comercias do Brasil. Aqui, ele começa a ser conhecido como o “Cirineu da Televisão” (Cirineu, aquele que auxilia, que serve de exemplo em um serviço árduo).
Em 1966, ele quer melhorar suas vendas e pensa que já é tempo de Sergipe ter seu primeiro canal de Televisão, e ajudado pelo seu contador criou uma empresa, a TV Sergipe S/A e sai vendendo ações aos amigos comerciantes. Nasce o sonho da primeira emissora de TV do estado. Ele conta com o apoio de um amigo, que tinha voltado para Sergipe vindo de São Paulo, o Nailson Menezes, que se transformaria no maior e primeiro publicitário do estado, e juntos, eles conseguem vender todas as ações e transformar o sonho em realidade, a junção do conhecimento técnico do Nailson que trabalhava como vendedor de reclame (Diz respeito à veiculação de um produto, propaganda, anúncio comercial), da TV Excelcio em São Paulo, com a visão de empreendedor do Irineu Fontes.
Com o acreditar de vários comerciantes e empresários do nosso estado, como Francisco Pimentel Franco, Josias Passos, Getúlio Passos, José Alves, Hélio Leão, Augusto Santana, Paulo Vasconcelos, Geonizio Curvelo, Carlos Menezes, Lauro Menezes e Luciano Nascimento entre outros, além de uma parte da sociedade sergipana, o sonho se realiza em 1967 com a primeira transmissão da TV Sergipe que entra em fase experimental e é inaugurada em 1971, tendo como primeiro presidente o Josias Passos, o maior acionista.
Um homem com o olhar no futuro, com a força de trabalho inesgotável, e com um amor a sua terra vibrante é assim Irineu Silva Fontes o Cirineu da Televisão em Sergipe.
E assim, nesse dia dos pais, eu faço essa homenagem ao meu pai Irineu Silva Fontes, e reconheço o homem trabalhador, incansável, empreendedor e honesto que deu uma grande e imensurável contribuição a esse estado tão pobre de memória.
Hoje com 84 anos, te desejo muita saúde e paz.
E Viva os Pais!
Irineu Fontes
Gestor Publico, Cantor, Compositor e Produtor
Presidente do Instituto Hélvio Dória Maciel Silva