Coluna Amaral Cavalcante
Este negócio de crônica é novidade para mim, se bem que comecei na imprensa nos idos setenta, quando, fugindo de um emprego fuleiro numa movelaria, tomei tento e saí catando vida melhor. Precisava prover o sustento da casa, além de abastecer o vício perdulário de comprar livros velhos num sebo que havia na rua de Geru. Dos caraminguás ganhos na movelaria sobravam-me alguns cruzeiros para o cinema aos domingos e o supremo prazer de um banana split na Cinelândia.
Mas foi ficando esquisito, esse meu emprego sem graça. Já picado pela mosca violeta da poesia, esse orgulhoso filho de Corina, criado nos rapapés da elegante Simão Dias, via, a cada guarda roupa que arrastava, crescer sua inadequação ao serviço pesado. N’era pra mim não.
Aproveitei uma folga do almoço e dei de cara com o Sergipe Jornal, na Rua da Frente, que precisava de cobrador. Era Edmundo de Paula, de charuto e terno branco, o seu caricato diretor/editor. Sim, estava admitido. No outro dia, ostentando minha mais preciosa camisa – uma “Volta ao Mundo” de subaqueiras visíveis, guardada para momentos especiais desde a formatura no ginásio Carvalho Neto – lá fui eu, cobrador, de pastinha a tiracolo, bater pernas no comércio.
Em casa, eu já era jornalista e ai de quem duvidasse!
Mas era a redação o que me atraia. Também pudera! Lá estavam Hugo e Luiz Eduardo Costa Veiga, Carlos Alberto Chatô, a colunista Aparecida Garangau e o fascínio das máquinas de escrever, ainda inatingíveis para mim.
À redação do Sergipe Jornal (depois Diário de Aracaju), eu não tive acesso. Acho que isto resultou em trauma, porque demorou meia vida para que eu encarasse o ofício de escrever para jornal. Mesmo no Folha da Praia – que fundamos em 1981- eu jamais escrevia, temeroso da comparação com os ban-ban-bans da pena fácil como Fernando Sávio, Luciano Correia, Ilma Fontes e Clara Angélica. Fui começar a publicar crônicas na imprensa, recentemente, em 2008, chamado nas “chinchas” por amigos espertos como Luciano, Marcelo Déda, Antônio Passos e Samarone. Coube, na verdade, ao Cinform, revelar-me cronista sessentão, por obra e graça do editor Jozailto – outro poeta às voltas com manchetes e calhaus.
Então aqui me encontro, folgazão, maduro, escrevendo crônicas e espalhando leras que vão, desde a narração de fatos corriqueiros que me tocam à intensa vizinhança da poesia, esta sim que me possui por inteiro.
Amaral Cavalcante