Estephânio, hora de acordar!

Eu já estou atrasado, Creusa. Por que não me acordou mais cedo?

Tem mais de meia hora que eu lhe chamo e você só resmunga.

Logo hoje, que eu tenho tanta coisa pra fazer…

O que, por exemplo?

Muita coisa, Creusa, mas a mais importante é no final da tarde, no Bar do Galego.

Você não existe, Estephânio! Você é uma miragem, uma ilusão de ótica! A coisa mais importante do seu dia é um bar?!

Mas você não vive dizendo que o importante é ter qualidade de vida? Então… minha prioridade é ser feliz. E tem coisa melhor que, depois de um dia cheio, tomar aquela cerveja gelada e saborear uns tira-gostos da melhor qualidade, jogar conversa fora, relaxar…?

Tô é besta com a sua cara de pau.

Bora comigo, Creusa, você vai gostar.

Onde é?

Na 13 de julho, mais precisamente na rua……vizinho à igreja São Pedro e São Paulo. Pense! Dá pra pedir perdão a Deus antes ou depois.

Olha o respeito, Estephânio!

Mas esse não é o caso. Deus é pai, não é padrasto. Ele quer a gente feliz, não é isso, mesmo?

É, né?

Além de tudo, bar é um lugar sagrado, uma instituição. O Galego, mesmo, tem mais de 40 anos. Ali, muita gente fez amigos, começou a namorar, casou e separou. No Galego, o pessoal faz, até, reunião de trabalho. Tem gente que bate o ponto todo dia, na hora do almoço ou no happy hour. Para comemorar ou afogar as mágoas – tem lugar melhor que um bar? E o bar do Galego é uma referência. Por isso, está sempre cheio. Se não chegar cedo, não encontra lugar.

Realmente… fiquei até emocionada com seu discurso.

Além de tudo isso, Creusa, a cerveja é geladíssima. E o cardápio? Todo mundo fica “incrível” com a variedade. É sarapatel, galinha ao molho pardo, fígado acebolado, bisteca de porco, carne frita, frango à passarinha, moela com farofa e vinagrete, rabada, feijoada, carne do sol, carneiro, charque, camarão alho e óleo, tripa de porco, pastel, bolinho de bacalhau e de charque…

E você sabe o cardápio inteiro, né?

Claro, criatura! E ainda tem os caldinhos de ostra, camarão, sururu, arraia, mariscada… moqueca de robalo, de pescada…

Chega, Estephânio! Já me convenceu. Gosto de tudo isso aí.

Sem falar no ambiente agradável, o serviço rápido, garçons sempre a postos. Você olha pro lado e já tem alguém para lhe atender. Tem nada melhor que isso, não, Creusa…! Quem entende bar sabe que o Galego é profissional!

E o que é que tem no bar do Galego que eu não posso deixar de experimentar de jeito nenhum?

O caranguejo. Da melhor qualidade! É a opção mais pedida. Eu não sei o que é, mas o caranguejo do Galego é o melhor de todos!

Tudo bem. Então, vamos lá. Quero conhecer essa maravilha. Vou experimentar o caranguejo, a galinha ao molho pardo, o fígado acebolado e a rabada. De outra vez, eu experimento o resto.

 

Em setembro de 2018, depois de mais de 40 anos em atividade, o Bar do Galego fechou as portas. Mal sabiam Creusa e Estephânio que aquela teria sido sua última tarde no gostoso e acolhedor Bar do Galego.

De qualquer forma, o que fica são as boas lembranças dos encontros de fim de tarde naquele lugar.