Costumava eu jogar tênis na Academia de Jurinha Lobão (saudosíssima memória, agora completados – no dia 1º de maio – dois anos do seu passamento, e, sem fazer favor e sem ser hiperbólico, um dos maiores desportistas que o nosso Estado e país já viram, pela sua integridade de caráter e dedicação ao esporte), e, às quintas-feiras à noite, era comum após os jogos nos dirigirmos à famosa costelinha (outro point a ser experimentado pela confraria), que era situada ao lado da academia, na rua do famoso Acarajé da Rita, e que dá acesso à Atalaia, e até pouco tempo era o único meio de chegar até lá; hoje se encontra subutilizada diante do novo – e mais inteligente – acesso à Atalaia pela própria sequência da Av. Delmiro Gouveia, que, ali, recebe outro nome. A costelinha continua à mesma rua de antes, porém não no mesmo prédio; deslocou-se para uma casa mais à frente, próxima ao Acarajé da Rita.

 

Era também corriqueiro nessas reuniões, como, de resto, também ocorre com a nossa confraria, que o grupo pouco a pouco se dispersasse, alguns saindo mais cedo do que outros, outros chegam e saem à francesa, de modo que, ao final, a equipe se resumia àqueles mais cativos do dono do estabelecimento e mais íntimos da cerveja, que teimam em deixá-lo por último, “no lixo”. Coincidência ou não, eu sempre integro esse último grupamento.

 

Num determinado dia, estava eu em companhia de um colega, de tênis e de copo, chamado Alberto Jorge; uma figura formidável, cuja idade nunca perguntei por pensar ser deselegante, mas que aparenta beirar os 50 anos; solteiro, representante comercial, filho de Catende/PE, Alberto mora sozinho em Aracaju e se apresenta como apaixonado pelo tênis, pelo copo e por mulheres; afora o meu apego à fidelidade matrimonial, enxerguei nos outros dois atributos de Alberto uma ímpar afinidade; tornamo-nos bons amigos, e curtimos boas farras juntos, regadas a cervejas geladas, disputados jogos de tênis, e papeando sobre assuntos diversos; infelizmente, o tempo fez com que perdêssemos contato, já que não tenho mais o seu telefone, e nem me dedico tanto ao tênis como antes.

 

Mas nesse dia, ficamos eu e Alberto Jorge bebendo no bar da Costelinha; chegava um e saía, outros também, até que o dono do bar – um senhor oriundo de Santa Catarina – sentou-se à nossa mesa, e começou a contar piadas, principalmente tendo como vítimas os gaúchos; ele passou um bom tempo, até ressaltar que iria embora, mas que nós poderíamos ficar à vontade, já que os garçons ficariam a nossa disposição (claro que ele disso isso por lhaneza, porque, malgrado, ele frisou que estava indo embora pois já era hora do bar fechar).

 

Entretanto, como qualquer bêbado interpreta restritiva e literalmente gestos que impliquem na manutenção da farra, resolvemos ficar; passaram-se algumas horas – salvo engano, já estávamos para lá de 2h da madrugada (o bar fechava à meia-noite, pois era dia de semana), quando os garçons, na típica postura de desapossamento, indagaram-nos se queríamos algo da cozinha, pois iria encerrar; dissemos que não, que queríamos apenas cerveja, e continuamos os nossos trabalhos como se nada tivesse acontecido. Então, passados mais 30 minutos, aproximadamente, partiram para o plano “B’: começaram a organizar as mesas e cadeiras, porém nós não nos fizemos de rogados; continuamos a beber normalmente.

 

Depois de mais 30 minutos, chegou um garçom com uma ideia que, para eles, era a tábua de salvação; ele frisou: – Srs., a cerveja gelada acabou; só tem quente. Eu, de bate-pronto, perguntei: – Tem gelo ?; ele disse então, num misto de falsidade e alívio: – Infelizmente não! Claro que, a tais alturas, eu já havia me rendido, todavia não sabia dos propósitos de Alberto Jorge, que, sem cerimônia, disse ao desafortunado garçom: – Traga quente mesmo; o gosto da cerveja é o mesmo; a temperatura é efeito psicológico.

 

Era visível a cara de frustração do garçom, mas ele trouxe a cerveja quente mesmo, só para ver se nós tomaríamos: e nós tomamos ainda 03 (três), não sei se por orgulho ou porque o teor alcóolico já era tanto que não dava para distinguir o quente do gelado. O mais difícil não foi tomar a cerveja quente, mas sim explicar a Patrícia, quando cheguei às 4h, que estava apenas com um amigo, num bar, jogando conversa fiada fora, e bebendo, ao final, cerveja quente. Grande companheiro de farra e de jogos de tênis Alberto Jorge.

 

Por Marcelo Carvalho