Dentre as várias ocupações de Robertão, uma delas foi a de Diretor Comercial de TV.
Um dia, Robertão, nessa qualidade de Diretor Comercial, recebeu um pedido de exposição na mídia de um festival de mágicas no Teatro Atheneu, protagonizado pelo grande mágico local Fu Yang.
Robertão explicou que só poderia vincular os comerciais se houvesse autorização superior e Fu Yang resolveu correr atrás, mas pediu a Robertão que adiantasse o material porque o GRANDE FESTIVAL DE MÁGICA estava próximo.
Pois bem.
Fu Yang foi a um, foi a outro, mexeu dali, conversou com fulano, dialogou com sicrano e pediu a beltrano, até que, às vésperas do festival, a autorização foi dada.
Robertão tinha certeza que a propaganda não seria autorizada e nem se mexeu. Não moveu uma palha, não diagramou nada. Não fez um vídeo. Nada. Absolutamente nada.
Às vésperas do Festival, um dia antes, exatamente, eis que surge Fu Yang, munido de todas as assinaturas e apresentado a Robertão como se fosse oferecendo um manjar a um Deus.
– Está aqui Robertão. Tudo assinado e autorizado como eu prometi. Você já vinculou os reclames?
– Já Fu Yang, tudo nos conformes.
Assim que Fu Yang deu as costas, Robertão correu para preparar o material e tome exposição. O que era para passar doze vezes recebeu publicidade de 36 anúncios.
Tudo pronto e preparado, Robertão chamou o amigo Jorge para irem ao Festival de Mágica com os ingressos de cortesia que havia recebido.
Chegaram ao Teatro Atheneu, que se situa no Colégio de mesmo nome e estranharam a bilheteria vazia, sem ninguém.
Perguntaram à bilheteira quantos ingressos tinham sido vendidos. Resposta: NENHUM. Vocês são os primeiros a chegar.
Robertão logo pensou – Tô fodido – enquanto Jorge sugeria comprar 20 ingressos de uma vez. A ideia de Jorge de nada adiantaria porque o Teatro Atheneu tem capacidade para umas 800 poltronas.
Adentraram ao Teatro e uma melodia suave fazia o fundo musical. Sentaram e esperaram até que surgiu a voz de Fu Yang.
– Ressssspeitáaaaaaaaaavel Público. É com prazer que apresentamos o Grande Festival de Mágica de Aracaju. Com vocês o mágico Fu Yang.
O palco se descortina e aparece Fu Yang para uma majestosa platéia de 02 pessoas. Robertão e o amigo Jorge. Robertão se escondendo e Jorge de fiel escudeiro.
Fu Yang olha para Robertão e de cima do palco, vestido com uma esvoaçante capa preta, berra:
– Robertão, eu vou lhe matar, seu filho-da-puta. Como você faz essa porra comigo? Passou somente um dia de chamada comercial.
E continuou…
– Eu vou lhe matar de faca.
Robertão foi embora do Teatro correndo e não ouviu mais falar de Fu Yang…
Até que um dia, Robertão descia enternelado pelo Calçadão da João Pessoa. A elegância em pessoa desfilava pelas pedras portuguesas do logradouro. Cabelo todo penteado e curado no creme Trim. Um terno azul escuro, gravata cinza, camisa branca impecável e sapato de cromo alemão. Completavam o figurino, uma meia branca combinando com a camisa e um lenço saltitante e suicida caindo do bolso do coração.
Robertão, distraído e verdadeiramente apaixonado pelo ramo da propaganda, seguia ouvindo os alto-falantes que anunciavam os produtos das lojas.
Até que veio uma voz conhecida que anunciava:
– Calça a 60 reais. Levando duas a segunda sai pela metade do preço. Pacote de meias com 03 pares por 15 reais.
Robertão olhou. Era Fu Yang trabalhando de locutor de propaganda. Fu Yang imediatamente o reconheceu e emendou sem perder o profissionalismo.
– E ali vai passando Robertão. Um filho-da-puta. – Veja o nosso estoque de lingerie. – Eu vou te matar seu corno. – Temos também roupas para seu filho. – Robertão viado. – Calça jeans em promoção somente aqui. – Você me fodeu Robertão. – Olha a calça a 60 reais. É baratinho. Venha. Venha Robertão para eu lhe matar, seu vagabundo.
E Robertão, mais uma vez, saiu correndo. Desta feita, todo charmoso.