São João chegando. Clima de nordeste.

Milho, canjica, bolos de macaxeira e milho, laranja de umbigo. Fogos, quadrilha, dança.

Arraial na praça. Cadeira na porta. Povo dançando. Sanfoneiro tocando.

Sanfoneiro tocando?

Sem ele a festa perde o brilho. O trio concebido por Luiz Gonzaga: sanfona, triângulo e zabumba.

Estes três elementos do forró teriam várias histórias para contar e escrever.

Lembro de duas.

A Pizzaria Fornelo era propriedade de meu amigo Vadinho e se localizava na esquina da rua Riachuelo com a Avenida Hermes Fontes.

Ali fizemos muitas farras, jogamos baralho, soltamos buscapé, tudo regado a muita cerveja e whisky.

Às vezes para jogar buraco faltava um parceiro e a Delegacia da POLINTER (depois DEROF) ficava a três quadras da pizzaria. Gildo era policial ali lotado e eu pegava o carro, ia na Delegacia e prestava uma queixa informal dizendo que tinha um cliente alterado, um batedor de carteira, um cliente sem querer pagar, para que Gildo fosse lá resolver.

Pronto, estava arranjado o parceiro e a diligência prosseguia até 4 ou 5 horas da manhã, quando encerrávamos a jogatina.

Em frente à Fornelo, do outro lado da Hermes Fontes, tinha um ponto de ônibus onde os sanfoneiros que voltavam da tocada da noite esperavam o coletivo.

Estávamos lá bebendo e quando olhamos no ponto, estava o sanfoneiro esperando o transporte. Vadinho de pronto mandou chamar o artista para beber uma cerveja e tocar mais um pouco ali para gente.

A noitada se estendeu até cinco horas da manhã quando colocamos o sanfoneiro em cima de uma picape Saveiro’s em direção aos bares da Coroa do Meio e Atalaia.

Era a gente bebendo e o sanfoneiro tocando e tome cachaça e tome forró até que chegou a tarde e a hora de abrir a pizzaria novamente.

Voltamos para o mesmo lugar, do mesmo jeito. Quem nos viu na noite anterior, jamais diria que tínhamos rodado os quatro cantos de Aracaju fazendo um forró itinerante.

De sanfoneiro tem outra que Mané me contou.

A família dos ‘VilaNovas’ é grande e composta de pessoas da melhor cepa, os quais tive o prazer de compartilhar a amizade de alguns e o conhecimento de outros. Gilberto, Osmário, Chico, Marcelo, Gilbertinho, Raimundo. Com esses eu já tive a alegria de poder dividir copos.

Em uma farra pelos interiores, nas redondezas de Cristinápolis, Umbaúba, Jandaíra, Mané encontrou um sanfoneiro de nome Zeca Pau Ferro. A cerveja descendo, conversa animada, sanfoneiro tocando.

Lá pelas tantas, Mané querendo investigar o respaldo do nome dos ‘VilaNovas’ naquelas bandas e para puxar conversa com o tocador, perguntou ao mesmo:

 

Mané – Já tocou muito pelas fazendas daqui?

 

Zeca – Já. Já toquei em quase todas.

 

Mané – Pessoal bom o dessa redondeza. Já tocou lá nos ‘VilaNovas’.

 

Zeca – Já.

 

E se calou. Mané insistiu.

 

Mané – E lá a tocada foi boa? Pagaram certinho?

 

Zeca – Pagaram.

 

Mané mais uma vez voltou à carga.

 

Mané – E por que o Senhor não quer falar o que aconteceu lá?

 

Zeca – Olhe seu Manuel. Não tenho que dizer. O pessoal é gente boa. Animado. Pagaram certo. Mas, acontece, que depois de certa hora, todo mundo já bêbado, eles querem que a gente toque nu e manda o trio tirar a roupa sob a ameaça de revolver. Disso eu não gostei, mas tive que tocar nu até 9 horas da manhã.

 

Por Eduardo N.