Stephânio, que milagre é esse, chegando em casa a essa hora?

Você é engraçada…. se eu chego tarde, você reclama. Se eu chego cedo, também reclama. Você quer o que, Creusa?

Eu só quero saber uma coisa: aonde é que você estava – chegando cedo ou tarde!

Hoje, eu fui ao Lusitânia, mulher… estava com saudade do bolinho de bacalhau e daquele vinho verde, que é da melhor qualidade, e que Abel sabe sugerir pra combinar com o bolinho.

Lusitânia… essa é nova!

Nova, só se for pra você, que é desinformada. O Lusitânia está aberto há 46 anos, vizinho à Igreja São Salvador, no calçadão da Laranjeiras com João Pessoa. De portas abertas de segunda a sábado. É ali que a gente encontra o  bacalhau da melhor qualidade e um bolinho de bacalhau que nem se fala! E, pra completar, o melhor azeite – puro, extra virgem de verdade e não essa enganação que a gente encontra por aí. Bando de sem vergonha… querendo vender gato por lebre. A mim, ninguém engana mais.

Hummmm…. e esse Abel, quem é? Amigo novo, de onde saiu esse?

Com toda a paciência do mundo, Creusa, eu vou lhe dizer: Abel é o dono do Lusitânia. O pai dele, que também se chama Abel, é português. É ele que faz questão de ter o azeite extra virgem puro e verdadeiro. Ele traz de lá de Portugal. A mesma coisa, com o bacalhau: no Lusitânia, ele só serve o legítimo, o Gadus Morhua – o melhor do mundo, de sabor inconfundível e que se desfaz em lascas tenras quando cozido.

Falando assim, eu nem lhe reconheço, Estephânio! Parece até um homem letrado, culto.

É que o Lusitânia também é cultura! A gente vai lá, come um bolinho de bacalhau da melhor qualidade e aprende tudo sobre esse peixinho e o azeite extra virgem que eles trazem da terrinha. O bacalhau também vem de lá! E vou lhe contar uma coisa aqui, só porque eu sou seu marido e acho que vai lhe acrescentar: Abel pai bebe uma colher de azeite todos os dias. Religiosamente. E já passou dos 90, na melhor forma! Ele nem precisa, mas até hoje, ele trabalha todos os dias, tá mais firme que uma rocha! Desse jeito, esse homem vai chegar aos 150 anos, facinho, facinho. E mais: ele usa o azeite na pele, acredita? E não tem nenhuma mancha dos braços ou no rosto.

Hummm… interessante. Mas você nunca me levou lá…bem que eu gostaria de comer um bacalhau da melhor qualidade, como você mesmo diz…

E você pensa que é assim? Eles fazem por encomenda. A gente tem que pedir, dizer para quantas pessoas, marcar a data e ir lá.  Já o bolinho de bacalhau, assim como o pastel de Belém, tem todos os dias – mas em quantidade limitada. Eles não guardam nada de um dia para o outro. Por isso que é esse sucesso. Se você quiser, qualquer dia eu lhe levo lá.

Por isso, que você vive lá, né, seu safado?

E eu tenho culpa? Pense comigo, Creusa: se é lá que eu encontro o melhor bolinho de bacalhau da cidade… o vinho perfeito para acompanhar o bolinho… um azeite da melhor qualidade, que faz bem para a minha saúde… você não diz que eu tenho que me cuidar? Então… tô me cuidando, criatura!