Pintor, gravador, ilustrador e desenhista, Leonardo Fontes de Alencar nasceu no dia 06 de abril de 1940, em Estância/SE. Desde criança, ingressou no universo artístico através das muitas leituras que fazia de revistas em quadrinhos. Atuante partícipe do movimento cultural sergipano, foi membro da Arcádia Literária do Colégio Atheneu Sergipense. Já adulto, por influência dos artistas sergipanos Jenner Augusto, J. Inácio e os irmãos Álvaro e Florival Santos, passou a se dedicar ao estudo da pintura. Foi imprescindível para o desenvolvimento de sua carreira o estímulo do pintor e também professor da Escola Nacional de Belas-Artes – ENBA, Jordão de Oliveira.
Em Aracaju trabalhou como desenhista, cenógrafo e discotecário da Rádio Cultura de Sergipe, onde produziu e preparou textos para o radioteatro “O Diário de Anne Frank” e “A Guerra dos Mundos”, do norte-americano Orson Welles. Em 1961, Leonardo Alencar se transferiu para Salvador, onde, inicialmente, foi bolsista no curso de gravura da Escola de Belas-Artes da Universidade da Bahia – UFBA; e, em 1963, aluno regular nessa universidade. No ano seguinte, contratado como professor, participou da implantação da cadeira de Artes Visuais da Escola de Belas-Artes da Bahia. Em 1966, foi um dos organizadores da 1ª Bienal Nacional de Artes Plásticas na Bahia.
Em sua pulsante passagem pela Bahia, foi vitrinista de várias lojas da Baixa do Sapateiro, caricaturista do jornal “A Tarde” e ilustrador do “Jornal da Bahia”, além de colaborar, como desenhista, do jornal comunista “Novos Rumos.” Em Salvador, conviveu entre artistas e intelectuais, do quilate de Vinicius de Morais, Mário Cravo Junior, Calasans Neto, Sante Scaldaferri, Carlos Bastos, Kennedy, Raimundo Oliveira, Lênio Braga, Genaro de Carvalho, Ângelo Roberto, Emanuel Araújo, Mirabeau Sampaio, Jorge Amado; dos radicados baianos, Floriano Teixeira, Carybé e Hansen Bahia, além dos conterrâneos Jenner Augusto, Zé de Dome e Nelson de Araújo.
Em 1971, Leonardo Alencar recebeu uma bolsa para atuar na Europa como artista residente e fixou residência em Londres, onde desenhou para a revista Time Out. Em 1974, retornou ao Brasil, passando a residir em Salvador até a década de 80, quando voltou para Aracaju, cidade em que, atualmente, vive, desenvolve a sua arte e ministra cursos de pintura e de história da arte.
Leonardo Alencar é um turbilhão na arte de criar, ama seu ofício e dele sobrevive. Depois de sua estreia, em 1959, em uma exposição coletiva no Palácio-Museu Olímpio Campos, realizou a sua primeira individual, em 1960 e desde então vem expondo rotineiramente, em todo o Brasil; entre outros rincões, em Aracaju nas década de 60, 80, 90; e, nos anos de 2001, 2002, 2003 e 2004; em Salvador, nas década de 60, 80, 90 e 2000; em Brasília, nos anos 1984 e 1993; em Recife, em 1987; em Curitiba, em 1989; São Paulo, em 2000; no Rio de Janeiro, nos anos 1961, 1964, 1969 e 1987.
Em outubro de 2009, foi homenageado pela Procuradoria Geral do Estado de Sergipe, tendo uma de suas obras na capa da VII edição da revista da PGE. Em 2011, realizou, em comemoração aos seus 51 anos de carreira, a exposição “Terra Adentro, Mar Afora”, na Galeria Manuel Bandeira, na Academia Brasileira de Letras, ocasião em que apresentou pinturas, desenhos e xilogravuras. Em 2012, participou da coletiva “Coleção Mário Britto”, edição especial Mostra Aracaju. Em 2015, participou da coletiva “Um sentir sobre as Artes Visuais em Sergipe”, sendo, ainda, um dos 50 artistas retratados no livro de mesmo nome, organizado por Mário Britto.
No exterior, já expôs no Panamá, em 1966; em Londres, em 1971; em Paris, em 1971; em Liverpool, em 1972; em Rhode Island, em 1995; e em Boston, em 1996. Leonardo Alencar tem realizado e participado de inúmeras exposições. Nunca a arte plástica sergipana esteve tão bem representada.
Em 2006, o presidente da Academia Sergipana de Letras, o escritor José Anderson Nascimento lançou o livro “Metáfora dos Arlequins, as cores na arte de Leonardo Alencar”, e, em 2009, com o patrocínio de Banco do Estado de Sergipe foi publicado, com apresentação de Mário Britto, o catálogo de arte “Terra Adentro, Mar Afora!”, Pinturas e Xilogravuras.
Em sua virtuosa iconografia, além das telas, xilogravuras e ilustrações para livros, Leonardo Alencar vem produzindo importantes murais e painéis temáticos, destacando-se: “Morte e Ressurreição de Jesus Cristo”, para a Igreja São José, pintura sobre parede, em 1993; os painéis do Hospital João Alves Filho, acrílica sobre tela, em 1997; “Alegoria ao Trabalho”, para o Tribunal Regional do Trabalho, em Sergipe, acrílica sobre tela, em 2006; “Evolução da Eletricidade”, para a Energisa, acrílica sobre tela, em 2010; “Nascer do Livro”, para a Escola Municipal José Carlos Teixeira, tinta sobre azulejo, 2011; “Forma Víctea”, para o Museu da Gente Sergipana, tinta sobre azulejo, em 2011 e “Nascer do Som”, para o Conservatório de Música de Sergipe, acrílica sobre tela, em 2012.]
Como Ilustrador, Leonardo Alencar fez a capa do livro “Lampião no Noticiário Oficial”. Desde 2003, pertencente à Confraria dos Bibliófilos do Brasil, ilustrou duas edições especiais da associação, com bico de pena – o livro do escritor mineiro João Alphonsus “Galinha Cega, Mansinho e Outros Bichos”; e – com duas dezenas de xilogravuras – o livro de Otávio de Farias “Três Novelas da Masmorra”.
O conjunto de sua obra o coroou com diversas e importantes premiações e o credenciou, em 1972, como sócio do Instituto Nacional de Arte Contemporânea na Inglaterra, vindo, ainda, a ser, desde 2005, o ocupante da cadeira número 9 do Movimento Cultural Antônio Garcia Filho, da Academia Sergipana de Letras. Em 2012, tomou posse como integrante da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC), do Ministério da Cultura, para o biênio 2013/2014.
Mestre expressionista, Leonardo Alencar é desenhista por excelência, tem domínio no uso da técnica mista, produz muito, mas não se repete, usa cores vibrantes, fortes e luminosas. Seus temas recorrentes são os personagens da Commedia dell’ Arte: pierrôs, arlequins e colombinas; figuras em poses eróticas; naturezas-mortas; animais, como pássaros, felinos, cavalos, e, predominantemente, peixes.
Sua arte conjuga com poesia e magia e nos obriga à leitura do subentendido; ao contemplá-la, estabelece-se um franco diálogo com o observador, que a cada “conversa” descobre uma nova interpretação, um novo significado. Suas obras sejam aquarelas, desenhos em bico de pena ou acrílica sobre tela não são estáticas, são questionadoras, mexem com o nosso imaginário e cumprem divinamente o seu mister, que é despertar a inquietação dos seus admiradores.
À primeira vista, seus quadros chamam-nos, apaixonam-nos e denunciam sua autoria; suas pinceladas, sejam pontilhadas ou trabalhadas, definidas ou indecifráveis, são sempre inconfundíveis, e isso, por si só, consagra-o, fazendo dele um artista único.
Na complexidade de seu talento, Leonardo Alencar é considerado por Anna Villar, Especialista em Conservação e Restauração de Bens Culturais, como pertencente ao seleto grupo dos modernistas, mas a sua ampla produção artística perpassa pelo impressionismo, expressionismo e pela arte abstrata, pois como afirmou o crítico de arte Carlos Eduardo da Rocha, Leonardo é “pintor de todas as coisas deste mundo, extraordinário fixador de imagens, da natureza e da realidade do mundo corpóreo, como um verdadeiro humanista”.