Desde as pinturas rupestres – e talvez até antes – a natureza tem servido de inspiração para as artes do homem. Esta inspiração está presente em desenhos, pinturas, esculturas, moda, móveis, arquitetura, engenharia, entre outros, com diversas formas, cores e movimentos.  Além do mais, quase todos dos produtos que consumimos são feitos de matérias-primas retiradas de recursos naturais.

Na natureza tudo tem a capacidade de se constituir e se adaptada de acordo com as necessidades de cada espécie. Podemos pensar o designe da mesma forma, sendo constituído e adaptado não só para as necessidades das pessoas, como também para despertar a criatividade, satisfazer seus prazeres e interesses.

Essa forma de inspiração é o que chamamos de “Biomimética”, que significa, na tradução literal, imitar a vida.  Trata-se de uma ciência que estuda os modelos da natureza para depois aplicá-los no design de produtos, de moda, na criação de peças e anúncios publicitários, entre outros.

O Instituto Biomimicry, norte-americano, criou e mantém ativo o portal “Ask Nature” ou pergunte a natureza, que reúne um enorme banco de dados voltados à biomimética. Nele os internautas podem pesquisar, de forma gratuita, áreas relacionadas ao tema, como estratégias biológicas, ideias inspiradas, recursos e coleções.

Grandes marcas têm se dedicado a esta busca para aprimoram seus produtos, suas embalagens e identidade visual. Há anos a Natura desenvolve um trabalho intenso nesse sentido, não apenas de associar a marca ao ambiente, mas de transformar elementos da natureza em produtos da marca.

No case da linha Sou, a Natura desenvolveu um vasto estudo para criar uma embalagem que fosse mais econômica e sustentável possível. A partir de um trabalho colaborativo entre diversos profissionais, a inspiração veio de um elemento bem presente nas nossas vidas: uma gota d’água. O produto, em formato refil, pôde ser comercializado por um preço mais acessível e gerou cerca de 50% a menos de impacto ambiental.

Em Sergipe um exemplo interessante, e cada vez mais bem sucedido, é o projeto Casa do Cacete, desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa, Tecnologia e Inovação (ITPI).  Frutos do projeto Arte Naturalista, uma ação de economia criativa e educação ambiental desenvolvida em Santa Luzia do Itanhy, o projeto trabalha o design contemporâneo inspirado no manguezal.

Incentivando talentos e formando ilustradores entre os jovens da localidade, a Casa do Cacete produziu trabalhos que renderam parcerias renomadas. Suas criações já viraram estampas de decoração, material de escritório e coleções de moda para clientes como Alpha’a Inc, Osklen,​ Morena Rosa e Banco Banese. Todas as estampas trazem ilustrações contém elementos do mangue, entre plantas e animais.

O design pode ser transformador, pois viabiliza não apenas a criação de um produto, como possibilita mudanças nos hábitos de vida das pessoas. Pensado a partir dos elementos da natureza, o design pode ser um grande aliado para soluções eficientes, funcionais e ecológicas, além de ser esteticamente interessante e atraente, agregando valor de mercado às marcas e produtos.

Luana Feldens é jornalista e gestora de mídias digitais da Conceito