Ganhei em 1969 de minha mãe Susete, um Di Giorgio estudante e um contrabaixo Gianini. Ela comprou de Dona Caçula, que era mãe do grande músico Heribaldo, e uma excelente vendedora. Ao saber que eu já cantava no Instituto Sagrado Coração de Jesus, aonde fiz o primário junto com o amigo Lula Ribeiro, na época só Luiz Carlos, disse logo que, um bom cantor tem que tocar um instrumento, e vendeu logo dois: um com seis cordas e outro com quatro.

Algum tempo depois minha mãe me matriculou no Instituto de Música de Sergipe, o prédio ficava na esquina da Catedral Metropolitana, onde hoje está instalado o Memorial da Justiça. Seis meses depois, já em 1971, passamos a estudar no prédio novo na rua de Santa Luzia, com a rua Boquim e o Instituto ganhou o nome de Conservatório de Música de Sergipe. Tive bons professores, e dois me influenciaram muito: o violonista João Argolo e o pianista Paulo Cesar. O primeiro meu mestre de violão e o segundo cursei as matérias de ritmo, canto e solfejo. Os dois eram grandes instrumentistas e assim comecei a minha carreia musical tocando em concertos no auditório do conservatório e na minha escola, sempre músicas clássicas. Gostava muito de tocar Villa Lobos e o seu trenzinho caipira, tanto que a minha primeira composição foi um “estudo” uma musica instrumental. O professor Argolo gostava muito da minha execução, além de ser amigo irmão do meu avó e por isso tinhas algumas regalias e preferencias acho eu.

Aos 14 anos resolvi que não seria um instrumentista, queria usar como instrumento o meu canto e me dediquei as harmonias, estudei com Heribaldo e com o Henrique Sousa que, vindo de Maceió, trouxe o método que ele mesmo criou “prático, rápido e eficiente”. Aos 16 anos compus as minhas primeiras músicas com letras e já me acompanhava muito bem.

A música sergipana sempre teve bons músicos instrumentistas e convivi, na minha infância e adolescência, com vários deles: João Argollo e seus filhos Alvino Argollo, Eliana Argollo e João Argollo Filho, esse último meu colega nas aulas no conservatório; Medeiros e seu clarinete; Urscino Fontes, o Carnera; João Rodrigues; João de Dó; Miguel Alves; Luís D’Anunciação; o Pinduca; entre tantos músicos que admirava. Hoje a música instrumental vem se destacando com inúmeros músicos apostando em suas carreiras de solistas ou em grupos. Temos da sanfona à guitarra, do cavaquinho ao Cello, nomes como os jovens Mestrinho, Lucas Campelo, Saulinho Ferreira, Davysson Lima, Ítalo Neno, Samuel Alves, Grupo Membrana, e os com mais tempo de estrada como Julinho Rego, Marcos Vinicius, Gentil, Vanderlei, Pedrinho Mendonça, Lito Nascimento, Odir Caius, Alejandro, Robertinho, Alexandre, João Moura, Orquestra Sanfônica, entre outros.

Entre esses grandes músicos um me chamou mais atenção, não só pelo talento que é uma máxima de todos já comentados, mais pela versatilidade de conviver com todos os ritmos e melodias sem preconceito, nem de estilo, nem musical, tão pouco de cronologia. O violonista Alberto Silveira. Músico versátil, é compositor e arranjador com  técnica impecável de fingerstyle, que é a forma de tocar apenas com os dedos e sem utilizar a palheta.

Classificado para tocar no Festival do SesCanção, convidei meu amigo Alison Coutto, o Alemão, e sua Coutto Orquestra, para tocarem comigo. Assim, fui apresentado a Alberto, que é atualmente o violão da banda. Já tinha ouvido falar muito bem dele, mas era pouco todos os comentários, pois o rapaz é melhor que tudo que ouvi: ótimo músico, simples, gentil e generoso. Escutei dele a seguinte frase:

– Você pode não ganhar o Festival, mas ganhou meu coração!

Virei fã e fui pesquisar sobre o artista, músico e compositor que me deu o prazer de tocar com ele.

Alberto Silveira também é autor das trilhas dos curtas-metragens “A parede”, vencedor do Prêmio Aperipê de 2007 e “Do outro lado do rio”. Participou de diversos festivais e mostras competitivas; venceu o Prêmio Aperipê de melhor instrumentista e de melhor música instrumental: “Fim de Noite” ( 2011); foi finalista do Festival Nacional da ARPUB (2011); e integrou a coletânea SesCanção (Mostra de Música Sergipana de 2011), lançada em 2012 com a canção “Quase Primavera”.

Alberto também participou de eventos importantes no cenário musical sergipano como o 1º e 2º Festival Mangaba Instrumental (2011 e 2012). Em 2013integrou o circuito Sesc Instrumental com shows em diversos municípios de Sergipe.

Já em 2015, Alberto gravou o CD Baleadeira com uma sonoridade inconfundível com seis faixas. “Baleadeira”, a música que dá nome ao disco, é uma mistura maravilhosa que vai do country ao baião com pitadas Geraissatianas, me dando saudades do grupo D’alma;  “De Piranhas à Canindé” um caminho de pura melodia e harmonia que nos leva para a beleza e o calor do caminho; “Pisadinha” me remete a pisada dos índios Xocó com seu Toré; e “Eu subi lá no alto do tempo, só para ver a fundura do mar”, nesse caso para ouvir Alberto tocar. A quarta faixa nem precisa ver o nome na capa do cd, ela traz o cheiro das flores, o canto dos pássaros e a leveza da alma “Primavera” uma bela canção;  “Peixinhos” é a faixa do conhecimento, ele se atreve a fazer uma nova roupagem da canção do folclore brasileiro com maestria deixando uma pitada de saudade de infância; e “Fim de noite é um pop Rock com cara de começo de festa de alegria, fazendo você querer ouvir tudo de novo.

O disco é produzido pelo excelente Thiago Ribeiro (mal de família) que ainda assina junto com o Alberto os arranjos, tem nas percussões e vibrafone Antenor Cardoso. Os violões do Alberto Silveira e baixo de Thiago Ribeiro, são como um convite e a comprovação definitiva da ótima fase da música instrumental sergipana. A Baleadeira que se apaixonou pelo passarinho, ela é de paz.

 

Neu Fontes
Cantor, Compositor, Músico, Gestor Cultural, publicitário
Presidente do Instituto Hélio Dorea Maciel Silva

Foto: Sesc Sergipe