O primeiro “baile da vida” a gente nunca esquece. O meu aconteceu aos 14 anos de idade, no clube do Cruzeiro, na cidade de Estancia. Foi lá que conheci o “Crooner” da Banda “Unidos em Ritmo”. Com cerca de 17 a 18 anos, o menino cantava muito, ia do forro à música internacional, com força interpretativa e um grande envolvimento com a plateia. E olhe… plateia que estava ali para dançar e paquerar. E eu ali, prestando atenção nas belas estancianas e na música apresentada pela banda, pois já tocava e cantava desde os meus 9 anos. O Crooner, ou cantor em questão, era o Rogério Cardoso ou Pedro Rogério, como o pessoal da cidade o chamava. Ele já era ídolo da terra da minha mãe Susete e já se portava como um grande artista.
Alguns anos se passaram e me transformei num profissional da música, participando de Festivais e shows. Foi no ano de 1983, com a ideia do Jorge Lins e a participação minha, do Lula Ribeiro e do Jorge Cachaça, que realizamos um grande empreendimento cultural: o Circo “Amoras e Amores”. Fiquei responsável por montar uma banda base para tocar no palco do nosso circo cultural. Andamos pela noite Aracajuana, eu e o Jorge Lins, e montamos uma banda escolhida a dedo, um grupo de músicos que marcou a noite sergipana nos anos 80 e era composta por Lito Nascimento (Guitarra e Violão), Waltinho (Teclado), Flor (Baixo) Ednor (Bateria) e o Crooner do Unidos em Ritmo, que já tinha se aventurado pelo Brasil, cantando e gravando discos. Ele tinha retornado para sua terra natal com a banda “Voo Livre” e agora assinava só Rogério.
Rogério grava seu disco solo ainda naqueles anos do Amoras e Amores, sendo uma das músicas, “Pecado de Pássaro” – música minha e do Jorge Lins, que por sinal, gravou mais três vezes na sua vida de sucesso. Em 2014, o nosso Rogério se despede dessa vida terrestre e parte para a missão de alegrar os céus e deixa um grande vazio no “País do Forró”.
Em 2016, recebo na Secult, a visita da minha amiga Amorosa, que trazia pelas mãos, o Pedro Luan, filho do Rogério, menino que vi nascer. E como Rogério ficou feliz pelo nascimento dele. Ele sempre me dizia: esse menino vai ser melhor que eu!
Amorosa entrou e foi logo dizendo:
– Neu, tô trazendo Luan pra falar com você. Ele quer fazer uma homenagem ao Pai dele e falei que, antes de tudo, primeiro, tinha que escutar você.
Amorosa, como sempre, exagerada. Escutei atento toda a ideia do menino, menino mesmo, com seus 17 anos, a mesma idade de quando conheci o Rogério. Notei algumas diferenças entre os dois e muitas semelhanças. Achei tudo pertinente, o que ele disse. Regravou músicas do pai em parceria como: “Por do Sol”, “Carrossel”, “Isso é Amor” e “Computador”, “Cajueiro dos Papagaios” com Carlos Pita, “Reggae a Piter” – grande sucesso com Celso Bahia, em parceria com o Ismar Barreto, “Só foi um Beijo” com Dinho Bahia, entre outros grandes sucessos. E, para minha surpresa, pedia a permissão de regravar “Pecado de Pássaro”.
Gostei muito da conversa e orientei que ele deveria montar um projeto e propor ao Fundo Estadual de Cultura, que estava autorizado a inclusão da música e mais ainda: que ele desse o melhor dele para realização daquele sonho.
Algum tempo depois, ele me aparece para agradecer e convidar para o lançamento do CD – que já estava pronto já pronto. O “Feito a Dois” tem 12 faixas, é um disco feito de alma e amor, um trabalho que me emociona muito, além da linda homenagem de filho para pai, sem conflitos de gerações, sem diferenças, sem rejeições. Mas, retornando ao passado, de onde trouxe o que teve de melhor na vida do pai e da relação do pai com o filho e do filho com o pai: o respeito ao artista.
“Feito a Dois” consegue mostrar o Pedro Luan como um músico, cantor, instrumentista e produtor talentoso e conhecedor da música, não só do pai, mas da universalidade musical. O Cd é moderno, alegre, dançante e feliz, saudoso, mas contemporâneo. Pedro Luan faz seus pares, meninos e meninas, e nós os coroas, terem na boca a música dos anos 80 e 90, com muita diversão e responsabilidade, os sucessos feito pelo Pai.
O disco tem arranjos do Pedro Luan e do Alex Marques, foi gravado no Estúdio Três, e mesclou a participação de músicos que tocaram com o Rogério e da banda do Luan – uma ótima mistura. Esse menino cumpre a promessa feita ao pai quando ele diz “volta pra mim e me devolva o sorriso mais sincero”, e no final do disco, ele responde “você pode acreditar, é que pra todo fim existe um início”. Rogério está feliz, e estamos felizes testemunhado o início do Pedro Luan e “nada pode bloquear tamanha força, pode confiar”.