O município de Laranjeiras é conhecido pelos sergipanos como o berço da cultura popular; as danças, folguedos e crendices populares se destacam de modo peculiar, através de um povo que conhece e valoriza as tradições que refletem, interpretam, e até se reinventam os costumes e as origens das comunidades onde surgiram.
E foi assim que conheci Laranjeiras, entre idas e vindas ao Encontro Cultural de Laranjeiras, como assistente, artista e servidor da Secretaria da Cultura, conheci alguns mestres da cultura popular, que aprendi admirar de longe. Anos se passam e um belo dia, aparece no meu estúdio Capitania do Som, o publicitário e produtor de vídeo Júnior Fontes, por coincidência meu tio, pois ele é o irmão mais novo do meu pai. Ele trazia um projeto de gravação dos grupos de Lambe Sujo e Caboclinho das cidades de Laranjeiras e Itaporanga, foi a minha procura, pela experiência que tive com Luiz Antônio Barreto na produção de diversos CDs de cultura popular, como: Taieira, Reisado de Lalinha, Reisado do Marimbondo, Indios Xokós, Romanceiros entre outros. Topei na hora a empreitada, e recebi no estúdio os grupos, seus brincantes e mestres. Entre eles o Zé Rolinha, José Ronaldo de Menezes, um sujeito sisudo, compenetrado e grande observador, fomos construindo uma relação de confiança no estúdio, e conseguimos gravar todos os cantos sem problemas e com muita qualidade. O Zé Rolinha sabia de tudo, do canto aos toques e principalmente o por que de tudo, além das suas histórias sobre a cidade Laranjeiras, e toda riqueza da cultura popular da cidade.
Alguns anos se passaram e em 2008, fui convidado pela prefeita reeleita, Ione Sobral para produzir um documentário sobre a festa do Lambe Sujo X Caboclinho, reencontro o Rei Zé Rolinha que convidei para ser o mestre de cerimonia do documentário, foi um show de informações e de conhecimento.
Em 2009 convidado fui a está, Secretário Municipal de Cultura de Laranjeiras, passei cinco anos a frente da pasta, conheci mais a fundo o Mestre Zé Rolinha e o homem José Ronaldo de Menezes. Assisti a evolução do maior mestre da cultura popular de Sergipe, o Zé se tornou, membro do Conselho Municipal de Cultura, Representante do Nordeste do Fórum Nacional de Culturas Populares e membro do Conselho Estadual de Cultura, o primeiro Mestre popular a ter uma cadeira no Conselho, representou o Brasil no Encontro de Mouros e Cristãos em Alincante na Espanha e foi um dos defensores do projeto de Lei Mestres dos Mestres, Lei construída pela Secretaria da Cultura, aprovada pela Câmara Municipal e sancionada pela prefeita Ione Sobral de Laranjeiras, que reconhece o fazer do Mestre e paga mensalmente dois salários-mínimos vitalicio, para o mestre exercer sua função maior de ensinar e da continuidade a função dos grupos e por sua vez a preservação da cultura popular.
José Ronaldo nasceu no município de Laranjeiras no ano de 1963. A primeira vez que brincou o Lambe-Sujo foi em 1968, saindo no folguedo dos Caboclinhos através da influência marcante dos seus tios, Dioscoide e Oscar Ribeiro dos Santos, do amigo mestre Ambrosino Ramos do Nascimento, conhecido como “Seu Raminho”, famoso mestre do Lambe-Sujo e de antigos mestres de sua infância como Severo, José Candeia e Nicanor. Aprendera com estes três mestres, à duras penas (levou surras e repreensões), o ofício da cultura popular tanto com os folguedos quanto se instruindo na arte de encouraçar a onça, instrumento de marcação dos folguedos.
Zé Rolinha exerce suas funções de Mestre da Cultura Popular com muito orgulho, ele coordena três grupos importantes: A Chegança Almirante Tamandaré onde tem a função de Mestre Piloto, é o Rei dos Lambe Sujos e o mestre do Batalhão de São João. O Zé Rolinha é reconhecido como Mestre da Cultura Popular, em sua cidade natal Laranjeiras, através da Lei dos Mestres e tem reconhecimento popular da sua função. No estado Sergipe tem reconhecimento, do Conselho Estadual de Cultura, do Instituto Histórico e Geográfico, da Assembleia Legislativa, de todos as instituições de Cultura do Estado e da população.
O Respeito a tradição e a função de mestre da Cultura Popular, é a maior virtude desse homem, que dedica sua vida ao folclore, e o trabalho diário de defesa e valorização de mestres e brincantes dessa cultura e dessa função. Zé sabe o que faz e sabe o que diz, tem o respeito dos mais velhos e admiração dos mais novos, é um lutador um batalhador feroz do seu fazer, e isso atrai forças negativas, ele enfrente o poder e aprendeu a negociar. Muitas das vezes a briga não é dele, são dos outros mestres ou brincantes, mais ele não tem dúvida, coloca pra ele a responsabilidade da luta. “Até os dias de hoje, existe uma hierarquia de valores e etapas a cumprir que é condição àqueles que fazem parte da cultura popular laranjeirense, transmitido historicamente através de um sistema de concepções herdadas e expressas em formas simbólicas num processo contínuo de transformação, sendo retraduzidas e reapropriadas pelos seus próprios criadores, segundo rupturas ou incorporações entre a tradição e a modernização. Quando Zé Rolinha se tornou mestre, consequentemente assumiu as atribuições da coordenação do folguedo, o pedido partiu do chefe do Lambe-Sujo à época, o mestre Miroles Filho para que ele assumisse, pois ele já havia cumprido com as etapas para se atingir a aceitação da legalidade de mestre”.(Mesalas Ferreira Santos)
“As vezes, não dá pra fazer o caminho em linha reta, ai temos que buscar atalhos e estradas vicinais, o importante é a defesa da nossa cultura” assim é o Zé Rolinha.
Neu Fontes
Musico, Compositor, Gestor Publico, Publicitário
e Presidente do Instituto Hélvio Dória