Por Jorge Carvalho do Nascimento

 

Cresci em um bairro da zona norte de Aracaju e aos seis anos de idade fiquei muito impressionado ao testemunhar a primeira campanha eleitoral da qual possuo vagos registros de memória. Meu pai, Seu Antônio, udenista, mestre de obras e bodegueiro, nascido em Indiaroba, entusiasmado com a política e tendo recebido a influência do partido comunista, era também militante do Leandrismo. Eu vivia um misto de assustado e admirado com grandes retratos em preto e branco de um homem que possuía largas sobrancelhas pretas, um olhar forte e penetrante e um ar sisudo e soturno. Abaixo desses retratos de Leandro Maciel que adornavam as paredes da bodega do meu pai, o slogan: “Ninguém se perde na volta”.
Na mesma casa, os retratos de Seixas Dórea não estavam grudados nas paredes, como os de Leandro Maciel, mas eram transportados cuidadosamente em sacolas por minha mãe. Dona Ivanda, nascida em Macambira e criada em Maruim, era entusiasmada com o PSD e mesmo contrariando meu pai divulgava a campanha de Dórea que, em 1962, acabou vitoriosa.
Algumas vezes testemunhei sem entender bem o que estava acontecendo conversas do meu pai com o major João Teles, Otoniel (dono de uma fábrica de colchões e os marceneiros Valdovino e Pedro Machado, todos divulgadores do comunismo nos bairros 18 do Forte, Santo Antônio e áreas adjacentes da periferia da zona norte de Aracaju. Eles eram importantes cabos eleitorais de Leandro Maciel naquela região.
O tempo me fez militante político e entusiasta dos estudos sobre a História Política de Sergipe. Pude olhar para tratar e compreender muitos dos fatos que testemunhei mesmo sem naqueles momentos entender bem o significado de cada uma das situações que presenciei.

 

Talvez por tudo isto e pela minha história de vida posterior, devorei com avidez e entusiasmo o livro LEANDRO MAYNARD MACIEL NA POLÍTICA DO SÉCULO XX, escrito pelo conceituado cientista político Ibarê Dantas. A obra de Ibarê é vasta e são inegáveis as suas contribuições como estudioso da vida política sergipana. Faz algum tempo que Ibarê havia incursionado pelo campo dos estudos biográficos com o livro que se dedicou a estudar a extraordinária figura de Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel – LEANDRO RIBEIRO DE SIQUEIRA MACIEL (1825-1909). O PATRIARCA DA SERRA NEGRA E A POLÍTICA OITOCENTISTA EM SERGIPE. O livro fez muito sucesso e, sem nenhuma dúvida, é uma boa pesquisa. Todavia, ao acabar de o estudo sobre “O Senhor dos Sete Brejos”, me convenci estar diante da obra que coroa a carreira de intelectual e pesquisador de Ibarê Dantas.

 

Claro que é visível no texto o sutil viés udenista presente nas ideias de Ibarê, o que em nada deslustra a qualidade do livro que escreveu. Todavia, Ibarê nos apresenta um Leandro humano, como todos nós, e, da mesma maneira que todos os grandes líderes políticos, portador de defeitos que são visíveis e amplificados na carreira dos homens públicos, mas também de inúmeras qualidades que somente ganham clareza quando somos capazes de perceber o Leandro que esteve mais próximo daqueles que com ele conviveram na vida privada.
É muito bom o trabalho feito por Ibarê para apresentar aos seus leitores o ambiente familiar no qual Leandro foi forjado e os seus primeiros passos, já engenheiro na vida política da Paraíba, onde conheceu a sua esposa e companheira de toda a vida, Marina Albuquerque. Todavia, ao meu gosto de leitor, dois momentos da escrita são insuperáveis: o capítulo que trata da eleição de Leandro para governar Sergipe em 1955 e o de duas grandes frustrações: a campanha para vice-presidente da República e a derrota eleitoral sofrida no embate contra o médico Gilvan Rocha.
O Leandro Maynard Maciel que nos é apresentado por Ibarê vale a pena ser lido por quem gosta de conhecer a alma humana e por quem tenta entender as tramas e embates próprios aos processos de disputa e manutenção do poder.