Em 1974, quando o Padre Arnóbio Patrício de Melo foi candidato a deputado estadual pelo Movimento Democrático Brasileiro e em razão disto foi suspenso das suas prerrogativas eclesiásticas, o MDB emitiu Nota Oficial de Solidariedade ao sacerdote: “Reiteramos a decisão de acatar a vontade do Padre Arnóbio Melo de se apresentar ao eleitorado sergipano, pelo MOVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO, como candidato a Deputado Estadual. O MDB se solidariza com o Padre Arnóbio Melo porque, domingo passado, foi injuriado por seu Bispo, D. Luciano Duarte, que lhe ofendeu a dignidade e o decoro de cidadão, publicamente. O MDB jamais discutirá as relações entre um sacerdote e o seu superior hierárquico. Contudo, o MDB possui o dever partidário de defender qualquer companheiro quando publicamente atacado, seja o injuriado de qualquer profissão, mesmo Padre.

A nota pública diocesana contra a honra de nosso correligionário Padre Arnóbio Melo, mesmo que atingisse o mais humilde emedebista, leva, em consequência, o nosso repúdio perante a população sergipana, em defesa da dignidade partidária e do seu companheiro atingido. O MDB possui em seus quadros tantos católicos quantos existem em todas as demais organizações. Por essa razão não admitimos que o dirigente ou o hierarca de qualquer organização civil ou religiosa possa denegrir publicamente a honra de qualquer emedebista pelo simples fato do injuriado ter tomado uma posição política, ingressando em nossos quadros. É disso que estamos convencidos: o Padre Arnóbio Melo encontra-se difamado por D. Luciano Duarte porque ingressou no MDB, e somente por isso. Sabemos que a Igreja Católica não é facciosa e que, como todas as organizações do mundo, não tem a verdade na boca do seu eventual dirigente. O MDB repudia as injúrias públicas assacadas contra o Padre Arnóbio Melo. Aracaju, 19 de março de 1974. Umberto Mandarino – Presidente em Exercício/Deputado Guido Azevedo – Vice-Presidente/Antonio Cabral Tavares – Secretário-Geral/Deputado Octavio Martins Penalva – Tesoureiro” (Cf. “Padre Arnóbio desafia: mostrem documento de meu mau procedimento moral” .In: Gazeta de Sergipe, Ano XIX, nº 4.729, 21 de março de 1974. p. 1).

A polêmica ganhou espaço também nos debates parlamentares da Assembleia Legislativa e da Câmara de Vereadores de Aracaju, com os deputados Octávio Penalva e Guido Azevedo (foto) fazendo a defesa do padre no parlamento estadual, enquanto na Câmara Municipal o porta voz da solidariedade ao sacerdote foi o vereador Jackson Barreto.
O MDB e o Arcebispo de Aracaju voltariam a ter problemas na campanha eleitoral de 1976, quando o deputado Leopoldo Souza denunciou Dom Luciano Duarte por haver demitido o estudante universitário João Batista Rodrigues dos Santos do Movimento de Educação de Base – MEB. João era candidato a vereador em Estância, pelo MDB e, segundo o deputado Leopoldo Souza, o arcebispo metropolitano de Aracaju atendeu um pedido do candidato a prefeito de Estância pela Arena, Valter Cardoso Costa (Cf. “Leopoldo denuncia perseguições e critica arcebispo de Aracaju”. In: Diário de Aracaju, Ano XII, nº 3.988, 14 de dezembro de 1976. p. 1).

A discriminação contra os militantes oposicionistas e o seu partido incluía, normalmente, o uso intensivo da imprensa com o objetivo de desqualificá-los. Além disso, os compromissos da mídia com os governos militares faziam com que a imprensa carregasse suas críticas nos candidatos do MDB e poupasse os arenistas. “José Carlos Teixeira e Oviedo Teixeira eram os mais visados. Articulistas, editorialistas, todos batiam nos candidatos oposicionistas” (Cf. DANTAS, Ibarê. A tutela militar em Sergipe, 1964/1984: partidos e eleições num Estado autoritário. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. p. 125).

Em Sergipe, quando os partidos políticos foram extintos pelo Ato Institucional número dois, o jornal O Nordeste era ligado ao PTB; o Diário de Sergipe, a coligação PSD-PR; o Correio de Aracaju, a UDN; a Folha Popular, ao Partido Comunista; e, A Cruzada, à Arquidiocese de Aracaju; Gazeta de Sergipe, propriedade do jornalista Orlando Dantas, ligado ao Partido Socialista Brasileiro – PSB. Com o bipartidarismo, a Arena, no exercício do governo, controlou vários jornais, como o Diário de Aracaju e o Jornal da Cidade, enquanto o MDB ficou sem qualquer veículo de comunicação. José Carlos Teixeira sentiu, portanto, necessidade de criar o Jornal de Sergipe para ter uma voz própria na mídia, uma vez que era muito forte a crítica que o partido recebia dos veículos de comunicação existentes, muitos deles bem assistidos por verbas publicitárias públicas. Ele mesmo esclareceu as suas motivações ao criar o jornal: “Criei para viabilizar o espaço para a oposição sergipana e para valorizar talentos e valores daquela época. O jornal trabalhou em processo de autogestão e, se não fosse a dedicação de Waldemar Bastos Cunha, não teria condições de sobreviver já que o diretor vivia em Brasília e Sergipe” (Cf. SANTOS, Osmário. Memória dos políticos de Sergipe do século XX. Aracaju: Gráfica e Editora J. Andrade, 2002. p. 463).

O Jornal de Sergipe cumpriu um papel da maior importância ao longo de todo o ano de 1978, expressando as opiniões partidárias através dos editoriais escritos por Arnóbio Patrício de Melo e Waldemar Bastos Cunha. O jornal foi vendido ao empresário Nazário Pimentel no final do mês de dezembro de 1978, conforme explicou José Carlos Teixeira: “Pimentel me procurou, manifestando o desejo de voltar a exercer o jornalismo em Sergipe. Ele tinha montado o Jornal da Cidade e vendido ao Grupo Franco. Ele me contou sobre as duas fases da sua vida. Uma, quando tinha um jornal, era considerado, respeitado e valorizado diante da sociedade aracajuana. A outra, sem o jornal, passou a ser menosprezado por todos aqueles que o valorizavam. Fizemos um entendimento. Ele tinha tempo para gerir um jornal e desenvolver. Ele tem essa gratidão, que é recíproca” (Cf. SANTOS, Osmário. Memória dos políticos de Sergipe do século XX. Aracaju: Gráfica e Editora J. Andrade, 2002. p. 463).

Ex-deputado Guido Azevedo

 

Por: Jorge Carvalho do Nascimento

Foto: Cesar Oliveira