Segundo José Carlos Teixeira, durante o período da última ditadura militar do século XX, na imprensa de Sergipe, apesar de o jornalista Orlando Dantas ter uma postura crítica em face de muitas das suas posições, o jornal Gazeta de Sergipe, de sua propriedade e sob a sua direção, era um dos poucos veículos que democraticamente abria os espaços para a divulgação do trabalho político do Movimento Democrático Brasileiro (Cf. TEIXEIRA, José Carlos Mesquita. Entrevista concedida a Jorge Carvalho do Nascimento no dia 10 de março de 2008). Mas, segundo Wellington Mangueira, essa relação nem sempre era das mais confortáveis: “Até mesmo no jornal Gazeta de Sergipe muitas vezes há manifestações contra o partido um pouco exaltadas, querendo exigir mais do que as circunstâncias da realidade poderiam permitir. Mesmo porque o MDB estava lutando contra uma estrutura ditatorial” (Cf. MARQUES, Wellington Dantas Mangueira. Entrevista concedida a Jorge Carvalho do Nascimento no dia 15 de agosto de 2008).

A posição do jornal era, de fato, contraditória, e, várias vezes o periódico manifestou suas divergências com as posições do Movimento Democrático Brasileiro, inclusive de maneira preconceituosa: “Aqui em Sergipe, por incapacidade política, ausência completa de espírito de luta, sem liderança capaz de reunir o povo descontente com a Revolução, não passa de um agrupamento político que, pensando em colher sardinhas com mão de gato, conseguiu reunir alguns elementos para a aventura. E não podia deixar de assim acontecer, desde o momento da constituição da sua Direção Estadual.

 

 Nunca os dissolventes de esquinas e de cafés, falastrões oportunistas e cavadores de bons empregos foram capazes de somar. Por isto que os emedebistas da Assembleia Legislativa não fazem oposição. Apenas, quando baixa muito o conceito de seus membros na opinião pública, ocorrem incursões de um ou dois deputados que simulam oposição. O desespero dos emedebistas vem se acentuando por falta de apoio da imprensa, sobretudo deste matutino. Gostariam os componentes da cúpula emedebista de repetir as jogadas do PSD-PR que, sem coragem para enfrentar o Sr. Leandro Maciel, viveram das nossas lutas contra o arbítrio e violência dos seus opositores. O pior vai ocorrer dentro em breve, quando sentirem que a Arena não se enfraquecerá. Sem mel nem cabaça, como será no amanhã, para esse grupo, senão entrar para a Arena? Vamos aguardar que o tempo explique tudo, depois da aprovação do projeto que cria as sublegendas” (Cf. “Oposição ausente”. In: Gazeta de Sergipe, Ano XIII, nº 3.577, 28 de maio de 1968. p. 3).

Jornalistas como Ariosvaldo Figueiredo (foto), que até o início da ditadura atuou como um ativo militante de esquerda, foram utilizados durante a campanha eleitoral de 1970 pelas lideranças da Arena para, de modo sutil, desqualificar o MDB e suas principais lideranças. Nos artigos que publicava periodicamente no jornal Gazeta de Sergipe, Ariosvaldo Figueiredo, que era àquela altura era contratado como o principal redator dos discursos do empresário Augusto Franco, candidato arenista ao Senado, costumava produzir textos agressivos que buscavam induzir a população a evitar o voto no MDB: “emedebistas falam, mas só vivem do verbo e da verba. Principalmente da verba, orçamentária ou não. Quando não é a verba, é oportunismo e a frustração” (Cf. FIGUEIREDO, Ariosvaldo. “Dinarte e classe política”. In: Gazeta de Sergipe, Ano XV, nº 4.220, 28 de agosto de 1970. p. 2).

Os textos do jornalista Ariosvaldo Figueiredo eram especialmente grosseiros em relação ao empresário Oviedo Teixeira, candidato que disputava a cadeira de Senador da República contra o arenista Augusto Franco, e contra José Carlos Teixeira, a principal liderança oposicionista em Sergipe: “se o MDB nacionalmente é uma droga, em Sergipe é o fim. Partido doméstico. Familiar. Miúdo. Rotineiro. Oligárquico. (…) A maioria dos seus membros não tem força eleitoral. Prestígio político. Espírito público. Sentido de renovação. O MDB sergipano é uma Arena frustrada. E ressentida porque não está no poder. Partido tradicional, comprometido com as forças mais reacionárias do Estado, é o outro nome ou sigla da Arena. Antes de tudo, o partido tem donos. As exceções não têm forças suficientes para democratizá-lo ou revitalizá-lo. Podendo prestar a Sergipe grandes serviços, como refúgio ou resistência de valores novos, de espíritos dedicados ao desenvolvimento, o MDB em Sergipe é mero trampolim para vantagens e negócios. É o aventureirismo com fachada de oposição. É gritaria em Sergipe e silêncio cômodo ou omissão rendosa em Brasília. Até nisso é, politicamente, ambíguo, hermafrodita, manhosamente heterodoxo. Um partido assim liquida qualquer um. Compromete qualquer Estado. Os poucos que no MDB sergipano têm inteligência, espírito público, mensagem popular, desenvolvimentista, não têm votos.

 

Os que têm votos são despreparados, imediatistas, reacionários, aventureiros. (…) é reacionarismo com fachada popular. É o oposicionismo de mentira. É o MDB, síntese de tudo isso. (…). Informa-se, agora, que o Sr. Oviedo Teixeira é, novamente, candidato ao Senado. O erro, repetido, vira insensatez. Mas, em compensação, caracteriza o sentido familiar, doméstico, do partido. (…) o MDB sergipano é propriedade particular, tem donos. Os demais, são eleitores, só têm obrigação de votar nos candidatos indicados pela copa e cozinha. O Sr. Oviedo Teixeira pode ajudar, financeiramente, o partido, pode ser majoritário em sua participação nesta estranha sociedade anônima.

 

Não discuto, tampouco que ele pode ser bom vereador, membro da Assembleia, mas Senador, paciência, é dose demais para um Estado que tem Universidade, que tem o dever de zelar pelas tradições de Tobias Barreto, de Sílvio Romero, de João Ribeiro, etc., etc. O MDB sergipano pode não ter cultura e espírito público para reformular sua política, mas, por sensatez, não deve tripudiar sobre o eleitorado. O eleitor de Sergipe merece melhor atenção, tem o direito, no mínimo, de ter bons nomes para votar. Como está não é possível” (Cf. FIGUEIREDO, Ariosvaldo. “MDB sergipano e eleição”. In: Gazeta de Sergipe, Ano XV, nº 4.223, 1º de setembro de 1970. p. 2).

 

Por Jorge Carvalho do Nascimento